5.7.09

The book is on the table

Jacek não sabia muita coisa, já no alto de seus trinta anos. Sabia onde achar a casa, o banco e a praça, dizer seu sobrenome, explicar a diferença entre verbos perfectivos e imperfectivos, declinar as palavras corretamente. Maria e Jacek se completavam. Ela sabia chegar ao aeroporto, chamar um táxi, fazer uma ligação e pedir algo num restaurante indo-polonês.

John era feliz com Alice. Tudo bem que os dois tinham apenas doze anos, cada. Mas ele sabia reconhecer todos os animais, possuía todos os adjetivos na ponta da língua e sabia o que ia ser quando crescesse. Ela tinha um extenso vocabulário geopolítico, reconhecia culturas ao redor do mundo e nunca errava as horas. Um futuro promissor para o casal de já-namorados.

Marco e Ilaria tinham muitas preocupações em suas vidas de jovens universitários, como descrever todos os pontos turísticos de Roma, os principais eventos de Milão, a temperatura de Turim e a história de Gênova. Todos o conheciam por ser o mais popular entre os seus. Todos a conheciam por ser a mais bela entre as suas.

Os seis se encontraram com Ricardo e Aline, certa feita. Estes não eram lá muito legais, apesar de sempre dizerem isso um para o outro. Eram difíceis de agradar: só falavam sobre carnaval, praias, samba e televisão. E pelo jeito não tinham muita ambição, o que era surpreendentemente comum aos outros.

Todos se entreolhavam impassíveis, sem saber o que fazer, o que pensar, o que dizer, para onde correr. Nazywam się Jacek, o polonês se adiantou. Maria sorriu e disse Maria, enquanto italianos e brasileiros riam daquele modo estranho e anasalado de se dizer Maria. Depois Aline lhe estendeu a mão, mas Maria evitou o contato com a desconhecida. Ricardo abraçou Marco, mas tentou fugir quando aquele carcamano de merda tentou lhe acertar um beijo na testa.

John observava a cena meio que consternado, pensando o quão nonsense era toda aquela situação, com vários adultos se estranhando de um jeito algo contemplativo. Porém não tardou a descobrir que o problema não era exatamente com eles. E que também não era possível fazer uma história que fizesse sentido tirando os personagens dos lugares de onde vieram.