19.1.13

Três pedidos

Marluci encontrou uma lâmpada mágica esquecida entre duas seções do sex shop. Vazia, empoeirada e em busca de algum esfregador, as duas. Escondeu-a na bolsa enquanto tentava encomendar mentalmente três pedidos.

Prioridade era um romance à Anastasia Steele, lhe parecia óbvio. O sonhado amor à primeira vista ficaria para a segunda rodada. Ou terceira? Era melhor assegurar logo a independência financeira, quem sabe. As dúvidas afligiram-na, impediram qualquer tentativa de compra.

Como as lingeries lhe travassem o pensamento, Maria Lucilene decidiu deixar o estabelecimento para definir prioridades, lâmpada à tiracolo e cesta de compras vazia.

Foi quando o alerta de furto apitou. Tal dádiva mística custava R$ 69,90. Por esse preço, melhor levar levar calcinha nova, algemas e chibata. E assim ela fez, a lâmpada que se danasse.

17.1.13

Conto do pardal

De segunda a sexta-feira, sempre ao cair da noite, aquela negra passava apressada, displicente; imprudente, até. 

Tudo o que ele podia fazer era jogar uma piscadela — e dessa forma agia diariamente, incansável. Imóvel ao lado da pista, não perdia qualquer chance de flagrá-la.

E assim cada piscada fazia reluzir a rua, convertia esse momento diário em fotografias inesquecíveis. Por algumas semanas enviou cada um desses retratos a ela, sua razão de existir, e não obteve resposta.

Até que certo dia a caminhonete foi apreendida por excesso de multas em uma blitz do Detran. O radar fixo jamais a viu novamente.

15.1.13

Mega-Sena acumulada

Juliane orquestrou o plano perfeito, a quarta-feira seria libertadora. Deixou o fulano esperando, abriu o site da Caixa e atualizou a página 14 vezes. Frustrada de pobre, chorou. Catou o telefone e se libertou para a quarta-feira.

2.1.13

Branco no preto

E então notou, no mesmo fiapo de segundo, um fio branco no cabelo e outro na barba. A ficha caiu de arrancada: os anos passavam, estavam certos.

Quando puxou o pensamento, a mente sangrou um bocado. Deu uma coceira no eu-lírico. E então, perdido, eureca!, descobriu que vinha aparando o português sem nem perceber.

Sovina, encurtava as orações a ponto de levar Deus a um bar para beber esses tempos difíceis. E sabe-se lá quantos períodos levou até conseguir colocar o preto no branco. Comemorou, mesmo assim. Pelo menos agora não faltaria mais branco.